terça-feira, 17 de abril de 2012

O dia em que desci do carro


"You're still the person I adore,
frozen with fear [...]So nice to see your face againbut tell me will this ever end..."
"Você ainda é a pessoa que eu adorocongelada de medo [...]É tão bom ver seu rosto novamente,mas diga-me se isso vai acabar..."Gotten - Slash ft. Adam Levine

O sol aqueceu a minha pele durante o rápido caminho do hall do meu prédio até o seu carro. Eu entrei e a gente se cumprimentou ainda meio sei jeito, como quem não sabe se beija na boca ou na bochecha. Acabou sendo na bochecha mesmo. Você estava usando aquela sua camiseta rosa que eu gosto tanto e o seu cabelo estava bagunçado. Você disse o meu nome e perguntou como é que eu estava, e nossa, eu gostava ainda mais do meu nome quando dito por você. Lembrei do apelido ridículo que você inventou pra mim e que fica ainda mais ridículo quando você pronuncia, mas pensei em como era engraçado ouvir. E pensei que não seria engraçado se fosse dito por qualquer outra pessoa.

Você sempre me disse que me achava linda de cabelo preso e que quando tudo estivesse difícil, era só eu amarrá-lo. Daria tudo certo. Porque o mundo se ilumina quando eu prendo o cabelo. Eu sempre dei risada, mas eu gostava de ouvir. Eu passei a prender o cabelo mais vezes. A gente estava se olhando e eu pensei não é ele, mas eu gosto dele. E você provavelmente estava pensando a mesma coisa. Não era eu, nem nunca seria, mas você insiste nisso porque alguma coisa te diz que você gosta de mim. Não tem nada a ver com amor. Aliás, esse texto não tem nada a ver com amor. É sobre carinho e coisas confusas, como todas as coisas dessa vida.

Nós nunca nos pertencemos, nunca nos permitimos muito, nunca passamos de qualquer linha que pudesse por em risco algo que sempre foi bom sendo o que era. Sendo simples. Sem complicações malucas de gente que ama, de gente que gosta demais e fala demais. Gente como eu era antes de você. Talvez de como eu voltarei a ser depois de você, quando houver um depois. Uma vez uma amiga me perguntou "você não acha que quando um casal está junto, eles ficam um a cara do outro?" e eu discordei, imagina. Claro que não. Aí hoje de manhã quando você me ligou, você usou aquela minha gíria idiota de sempre e eu fiquei uns segundos sem saber o que dizer. Aí eu só respondi que tudo bem, podia ser. Sei lá o que podia ser, mas naquela hora eu só soube que você era um pouco eu. Um pouco meu. Logo expulsei essa ideia da minha cabeça, não, você não era meu. Você é do mundo.

O motor do carro estava ligado e a gente ainda estava se olhando, olhares embalados ao som de Radiohead que tocava ao fundo. Eu odeio quando você deixa o silêncio tomar conta e não toma atitude nenhuma, nem me rouba um beijo. Eu odeio quando lhe sobra atitude com outras mulheres bonitas, mas lhe falta atitude comigo. Que medo é esse, eu sempre quis perguntar. Mas eu nunca perguntei porque eu nunca quis estragar qualquer coisa que pairava sobre nós. Nós nunca falamos sobre outros, mesmo sabendo que existem os outros. A música no carro já era outra, mas a gente continuava se olhando, talvez nos perguntando o que estávamos fazendo. Você então desligou o carro, colocou as duas mãos no volante e abaixou a cabeça. Não dá, você disse. E me pediu desculpas. Tudo bem. A gente não precisou de muitas palavras, a gente sabia. Estávamos passando daquela linha e passar dela poderia  estragar tudo.

Eu quis te perguntar qual era o seu medo, quis te pedir pra não desistir, quis prender o cabelo... Mas não dava, não dava pra passar da linha. Eu sabia o que eu tinha que fazer. Você pediu pra eu descer do carro e pediu mais um milhão de desculpas. Eu saí do carro e, assim, da sua vida. Porque era só um almoço, mas você não podia suportar a ideia de fazer coisas que só quem tá junto faz. E a gente nunca esteve junto, não é mesmo?  Não. Eu desci do carro, com o sol já mais quente e mais forte batendo nos meus olhos, e você fez a melhor coisa que podia ter feito por mim. Você foi embora.

22 comentários:

  1. doeu ler, mas me identifiquei. Muito bom! Parabéns.

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  2. Ai meu Deus isso é real? Mesmo? Gente que bad. Fiquei triste e chorandinho agora. Affe. Sei que ele é um idiota e estava torcendo pra sumir da tua vida, mas você parecia feliz mesmo com ele e isso estava ótimo no momento. Fazer o que... essas coisas acontecem. Pessoas idiotas, infelizmente, existem e nos infernizam. A gente sobrevive, sempre sobrevive.
    E essa história de prender o cabelo me lembra "Desventuras em Série", porque a Violet sempre tinha ideias geniais quando prendia o cabelo. Talvez esse seja o segredo... Prenda mais o cabelo, entre em mais carros e saia de mais carros também... A vida tem tudo a ver com fluidez, vamos deixar o que é efêmero ser efêmero e aproveitar só as coisas boas. Elas devem existir.
    Mil beijos e abraços do tamanho do mundo pra você, sua linda. <3

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    1. Maymay, sua linda! Eu amo os seus comentários de paixão! Mas relaxa, esse é apenas um conto. Brigada linda da minha vida!

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    2. Que bom que era só um conto... Que bom! HAHAHA

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  3. Amei, só pra variar.
    Fiquei na dúvida também se era real ou não. Mas hein, temos que tomar cuidado com essas coisas de 'não é ele, mas por enquanto tá bom', porque se colocarmos na cabeça o tal do 'não é ele', não nos deixaremos perceber que, pimba, não é que é?? Sabe assim?
    Hihi.
    E infelizmente, por mais que doa, às vezes o que as pessoas devem fazer por nós é ir embora. ;(
    Beijos, flor!

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  4. Ainda to em choque com as coisas que essas tuas palavras me fizeram lembrar. Eu não tive que sair de carro nenhum, mas apaguei as msgs trocadas durante a madrugada, tirei um tempo pra mim e segui em frente. Não era ele, nunca foi, mas quando a gente gosta né?

    Sei lá, só sei que esse seu texto me abalou as estruturas de verdade, mas tá lindo, tá... você! E eu amei né?

    Beijão

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  5. Em minha estreia aqui no seu blog, me vi naquela pergunta "se os casais apaixonados tem a mesma cara?" acho que sim, viu.

    Um beijo.

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  6. HAUAHUAHUAHUA Sério, o que você espera que eu comente, Marie?! Eu nun-ca tenho o que falar quando venho comentar nos seus textos, porque simplesmente me faltam palavras pra expressar o quanto eu te admiro, cara. Pelo amor de Deus! <3 <3 <3 Você manda demais! E nem se esforça...

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  7. EU ME VI EM CADA LINHA DESSE TEXTO E AINDA COMPLEMENTO DIZENDO QUE ELE É A CONTINUAÇÃO DO MEU. Meu Deus amiga! AMEI, TO SEM PALAVRAS PARA ESCREVER ESSE COMENTÁRIO.

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  8. Marie, seus textos fazem lembrar sempre da mesma pessoa. E não era ele mesmo. Eu acho. Também, foi tudo tão rápido que não dá nem pra dizer com certeza. Mas às vezes o melhor que eles fazem é ir embora, mesmo quando a gente quer que eles voltem.

    Beijos

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  9. Ai Marie! Que talento é esse que você tem de prender minha atenção desse jeito? rs
    Sem palavras, texto incrível!
    As vezes a gente não deve passar da linha mesmo, tem um limite ali pra não estragar as coisas, daí a gente deve descer do carro, descer da vida, descer de um sonho e deixar que alguma cosia vá embora, por nós.

    Incrível!

    Grande beijo.

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  10. Marie sempre linda com esses textos magníficos! Tenho que concordar com a Alê e com a Rhai, o texto me abalou e eu tô aqui sem saber o que comentar com a frase "A gente estava se olhando e eu pensei não é ele, mas eu gosto dele." latejando na minha cabeça. Como sempre, parabéns! Amo tudo aqui <3

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  11. Que lindo!
    Tenho um amigo passando por isso - e realmente é um amigo não é aquele jeito de dizer sem dizer que sou eu hahaha - e eu acho tão bobagem. Tão bobo não assumir que tá junto, não querer nomear as coisas, não querer dar a mão e enfrentar tudo o que vem quando a gente assume qualquer coisa nesse mundão de Deus.
    Adorei o texto e me identifiquei por ele. Mas tomara que ele não vá embora e resolva ficar e prolongue a carona e abra os vidros pra quem quiser ver quem ele carrega dentro do carro e do coração.

    E também gostei dessa frase "A gente estava se olhando e eu pensei não é ele, mas eu gosto dele.", e essa aqui pode colocar na minha conta rs.

    Um beijo, querida, muito obrigada pelo carinho.
    Parabéns pelo blog e pelo texto :*

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  12. Ai ainda bem que não é real.
    Como a Nicole disse ai em cima é muito bobo não assumir que ta junto, não nomear, não enfrentar.
    Acho que sempre vale a pena dar a cara a tapa , ir em frente, por amor sempre vale a pena.
    E tomara que ele volte.


    Beijos

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  13. Tá difícil saber o que dizer. Eu chorei lendo esse texto porque você (d)escreveu a minha vida atualmente nele. De verdade, era complicado transformar em letrinhas e pequenas palavras o que eu ando vivendo, e de repente eu vejo tudo ali. Eu vou ler de novo e de novo e não vou cansar. Nossa, mais que lindo.

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  14. Primeiro: é só um conto porque sua vida tá linda lalala
    HAHAHAHAHA Enquanto eu lia, lembrei do post da Rafinha sobre escolas literárias e pensei que daqui a um tempo, coisas que a gente lê hoje vai ser considerado literatura. É provável que isso demore muito, mas acho que um dia ainda vão estudar uma corrente e você vai tá no meio. Junto com a Tati, claro. E eu já tenho até as características na cabeça.
    Beijo, Maripokita!

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  15. Lembrei um pouco de Sexo Sem Compromisso no final, texto lindo! *-*

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  16. Querida Marie, seus últimos textos estão provocando uma catarse fenomenal em mim. Você não tem ideia. Texto incrível!

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  17. que coisa linda, Marie linda. triste sim, muito, mas lindo. adoro essas coisas confusas e delicadas da vida.

    (e vc fica linda de cabelo preso mesmo, gatona!)

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  18. Cancerianas são o máximo, escrevem super bem!

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  19. Que lindo, amiga! Fiquei lendo e imaginando a cena direitinho. Isso é o que eu mais adoro nos seus textos (:

    Beijo!

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