terça-feira, 25 de setembro de 2012

It's ok to be empty


Uma verdade sobre a vida: Ela é uma montanha russa. Uma verdade sobre a minha vida: Tá russa.

Uma hora da manhã e eu acabei de arrumar minha estante de livros. Pela segunda vez em uma semana. Acho que isso deve ser um tipo de TOC, sei lá. Gosto muito de arrumar meus livros, especialmente quando não consigo dormir ou quando não tenho nada para fazer. Ultimamente eu tenho tido muitas coisas para fazer, mas whatever, fui exercitar meu transtorno obsessivo compulsivo mais uma vez. É incrível como eu adoro arrumar os meus livros, mas a minha vida que é bom eu não organizo.

Sabe, eu tenho problemas com parágrafos, quebras de linha etc. Pelo menos aqui. Normalmente eu gosto de escrever tudo num parágrafo único, bem juntinho, sem pausas. Tudo de uma vez só sem direito a uma pausa para respirar, porque a vida normalmente é assim. Sem intervalos. E por mais que em alguns dias respirar fica quase impossível, a vida não é um ônibus que para pra você descer ou descansar. Ela é uma viagem única e se você quiser descer em algum lugar específico, vai ter que pular do ônibus em movimento. Eu gosto da minha vida, gosto muito mesmo. Mas eu também tenho vontade de pedir uma pausa para respirar, de vez em quando. Porque a vida tem dessas de fase. Uma hora tá tudo lindo, tudo azul, tudo maravilhoso e, em outra hora, tudo muda. É como se o tal do ônibus tivesse passado por um buraco derrubando tudo e todos que estão dentro dele. E aí os problemas vêm todos de uma vez. Você comenta que "não tem como ficar pior" e a vida, essa danada, responde "challenge accepted". 

Se esse fosse um texto para a faculdade eu já teria perdido vários pontos por repetição de palavras no mesmo parágrafo. A palavra ônibus, por exemplo. Repeti umas três vezes em menos de 5 linhas. Eu teria perdido uns 3 décimos de nota, nessa parte. Ou 3 décimos de centésimo, sei lá, perdi minhas qualidades matemáticas. Na faculdade de jornalismo - e na vida - a gente aprende que escreve bem, aquele que escreve sobre o que sabe. E que um bom texto, além de veracidade, tem verdade. Não verdade de veracidade, verdade de verdade. Verdade interior, sentimento. Uma vez me perguntei se isso é verdadeiro, por que eu não posso escrever um texto feito inteiro com uma única palavra? Ônibus, ônibus, ônibus, ônibus... Ou até idiota, idiota, idiota, idiota... Esses dias eu quis postar um texto assim, aqui no blog, mas talvez não fosse esteticamente bom ou poético ou bem trabalhado. Mas teria verdade e veracidade, certo?

Camiseta velha da época do colégio, uma caneca com coca-cola e meus olhos colados nos livros. Checando se está tudo ok, se a inquietação passou e se eu já posso dormir. É, a caneca tem coca-cola mesmo. Não é café, não. Não sei que obsessão esse povo tem de que jornalista precisa tomar café e, se não toma, é poser. Eu não tomo. Quer dizer, quando o sono ultrapassa o limite do possível e os meus olhos teimam em querer fechar, eu até me arrisco em um copo. Sem açúcar, que é pra dar aquele choque. Mas normalmente eu prefiro com leite, ou algo que tenha um certo teor alcoólico. Acho café uma coisa bem poética, assim como cigarros, óculos de grau estilosos e gente que escreve. O mundo está lotado desse tipo de gente que esbanja intelectualidade, "personalidade forte" e "bom gosto". No facebook então, puff... Todo mundo virou hipster.

Nas ruas eu vejo gente usando camisetas de filmes que nunca assistiram, de livros que nunca leram, de frases que nem sabem o que significam. E tudo bem, sabe. Tudo bem não saber, sério mesmo. Tudo bem nunca ter assistido aquele filme. Tudo bem se você só achou bonitinha, mas tem gente que finge que viu, que sabe, que gosta. Para com isso, pra quê tudo isso? Pergunte a si mesmo se você gosta mesmo disso. Você gosta? Ou você gosta do modelo, da aparência? Porque tudo bem, sabe? Eu já comprei várias coisas apenas pelo visual delas. Tudo bem se você não é fã de Woody Allen ou do Tim Burton (mesmo eu achando um pecado alguém não gostar de seus respectivos trabalhos), tudo bem se você não curte Linkin Park, tudo bem se você ouve Calypso. Mas assume, porra. Não fala que é fã number 1 da Audrey Hepburn se você não sabe o que é Breakfast at Tiffany's. Não invente um personagem para interpretar dentro da sua própria vida, descubra quem você é e seja.

Tudo bem ainda não saber quem você é. Ninguém sabe, ao certo, porque ninguém é para sempre. Todo mundo está. A vida é o eterno descobrimento de si mesmo. Você monta as peças do quebra-cabeça no caminho para depois desmontar e refazer. Eu sei que a caminhada é dura, eu sei que de vez em quando a gente só quer um tempinho pra respirar, mas ei... Fecha os olhos e respira fundo. Pensa em quem você é, em tudo o que você quer, em todos os sonhos que estão guardados dentro de você à espera de qualquer atitude que seja. Sonhos são nuvens dentro de nós querendo sair e virar estrela. Explodir. Tudo bem se você se perder no caminho, sabe? Sempre dá para se encontrar. Se reencontrar. 

Todas às vezes que você esquecer quem é, como está ou para onde está indo, lembre-se das coisas que quer. E das coisas que queria há cinco anos atrás. E de tudo que ainda vale a pena querer. O tempo acumula muita coisa dentro de nós, culpas, alegrias, dores, tristezas, lembranças. Não se torture pensando nas coisas que você perdeu, nas pessoas que você perdeu, nos erros que você cometeu. "E se..." são palavras que juntas não fazem presente nem futuro. Às vezes você precisa jogar algumas coisas fora, todas essas coisas ruins que só roubam espaços com potencial para abrigar coisas maravilhosas. Às vezes você precisa esvaziar muito além do coração, esvaziar a alma também. Tudo bem estar vazio de vez em quando. Excesso de coisas pesa no caminho, dificulta a caminhada, dificulta a absorção de coisas novas. Alma limpa é folha em branco. Pronta para ser escrita. Pronta para ser apreciada.

9 comentários:

  1. Ai ai, Marie, você precisa parar de escrever essas coisas...

    "Tudo bem ainda não saber quem você é. Ninguém sabe, ao certo, porque ninguém é para sempre. Todo mundo está (...) Pensa em quem você é, em tudo o que você quer, em todos os sonhos que estão guardados dentro de você à espera de qualquer atitude que seja. Sonhos são nuvens dentro de nós querendo sair e virar estrela. Explodir."

    Mentira, não precisa, não. Acho que todas nós estamos passando por uma fase meio chata, mas pelo menos ela tem rendido uns textos tão lindos e sinceros que dá vontade de imprimir tudo e colar na parede do quarto. Já já ela passa, amiga. Já já a gente volta a rodopiar com a Tary e a fazer folia nas madrugadas. Mal posso esperar por esse dia.

    E, ah, caso não tenha ficado claro antes: amo você.

    Beijos <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você é maravilhosa, apenas. E desculpa se eu não digo com frequência. Te amo! <3

      Excluir
  2. Olha, eu não sei se você lembrou de mim quando escreveu esse texto. Só sei que era tudo que eu precisava ouvir, hoje, e vou precisar lembrar por muito tempo.
    Obrigada pelas suas palavras, por compartilhar esse talento que você tem de escrever, pelo seu ombro, pela sua amizade que em tão pouco tempo já se tornou essencial pra mim. E obrigada por esse texto. Mesmo!
    Você é foda, Marie.

    ResponderExcluir
  3. Meu Deus, Marie. Confesso que adoro quando você volta desses seus 'brancos', porque você sempre volta matando a pau e escrevendo algo que me dá um alívio no peito. Eu também vivo organizando meus livros! Deve ser por isso que a vida anda uma bagunça..
    Eu amo você!

    ResponderExcluir
  4. Caramba Marie! Caramba!
    Adoro quando tu vem assim, com tanta verdade escrita sabe?
    É um tapa na cara da sociedade.

    Passo o tempo organizando e desorganizando meus livros também, assim como a vida, que como você disse, tem fases e quando você pensa que não há como piorar: Puft.

    Mas vai passar, certeza!

    Beijos sua linda.

    ResponderExcluir
  5. A gente deve ser gêmea mesmo porque ultimamente venho me corroendo com uma crise existencial do cão e sempre, absolutamente SEMPRE, que você escreve algo novo e eu venho ler dá a mim um soco no estômago, exatamente na região em que ele estava precisando ser socado, pra ver se eu aprendo algo, sabe?
    Você é fantástica. Você escreve com verdade, verdade mesmo, não veracidade. Pelo menos aqui. E eu sempre admirei e continuo a admirar muito tudo isso. E eu também tenho TOC de arrumar minha estante de livros. E nunca vou entender os critérios usados para correção de textos dos professores, afinal, Paulo Leminski, por exemplo, tem textos lindos que se um desses professores visse daria zero e diria a ele para parar de fazê-los. Porque escrever é muito mais subjetivo do que objetivo. Muito mais. Mesmo. E você consegue colocar para fora tudo isso com uma inteligência e simplicidade de dar inveja.
    Quando eu crescer quero escrever com tu.
    Abraços <3

    ResponderExcluir
  6. Por querer escrever tudo assim, bem juntinho, quase sem parágrafos, eu diria que você tem uma escrita saramaguiana. O José saramago, autor de "Ensaio Sobre a Cegueira", "Todos os Nomes", "O Ano da Morte de Ricardo Reis" e tantas outras obras maravilhosas escrevia bem desse jeito.
    Acho legal quando não criamos regras para a escrita. Sobretudo porque é cansativo e desnecessário. Nossa sociedade é tão regrada de absurdos que o interessante é quando tornamo-nos livres desses hábitos apenas com um espaço só nosso: o blog, por exemplo.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  7. Olha, fui passar por aqui rapidinho e me apaixonei por esse texto. Tô encantada, já reli umas três vezes. Tão leve e profundo ao mesmo tempo. Lindo. Parabéns.
    Beijos

    ResponderExcluir
  8. Flor nem sei o que comentar, texto diferente de todos os outros mas sem perder a essência, o sentimento.
    Digamos que você deu um tapa na cara da sociedade e na minha também quando falou de esvaziar a alma e o coração, preciso disso urgente e acho que estou aprendendo.

    Parabéns pelo texto minha jornalista preferida!

    Beijos

    ResponderExcluir

Sua opinião é sempre muito importante!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...