segunda-feira, 5 de março de 2012

Like a Gigi



Eu sentei na frente da televisão e zapeei mais de cem vezes por todos os canais disponíveis, mas eu sabia que o que eu queria não estava em nenhum deles. O remédio para a minha ansiedade não estava no canal de esportes, de culinária, das minhas séries favoritas e nem naquele que estava exibindo a minha comédia romântica favorita. O Ashton Kutcher até me distraiu um pouquinho, mas aí vem aquela cena final da Natalie Portman com todo aquele medo de amar e dizendo que sempre tentou manter distância desse tipo de sentimento, porque dói. Aí vem o final feliz. Zapeei mais umas quinze vezes por todos os canais novamente, descansei por alguns minutos na série policial e levantei para assaltar o meu próprio estoque de trufas de maracujá. Todas as trufas do mundo para não pensar em você. Todas as amigas do mundo para não ligar para você. Todas as distrações do mundo para não escrever para você. Tarde demais, é essa necessidade palpitante de mostrar pro mundo o que nem eu entendo. Sentei em frente ao notebook, ao lado da janela onde uma brisa gelada entra dançando em torno do meu corpo. O estômago se comprimindo, sendo sugado sem dó pelo coração e mesmo no espaço pequeno que sobrou dele, uma única borboleta dança como se fosse mais de mil. O telefone, que descansa ao lado, nunca esteve tão mudo e tão surdo. E eu nunca tão cega, tão desarmada, tão burra como agora. A garota que aprendeu e repassou todas as lições do filme Ele Não Está Tão Afim de Você, agora virou uma Gigi da vida. Boba demais, sonhadora demais, esperando demais. Repassando todas as músicas das milhões de pasta, tirando do shuffle e colocando no shuffle novamente. Que música ouvir pra te escrever? Qual a melhor trilha sonora para quem não merece nem uma palava? Nenhuma das minhas músicas se encaixou nesse momento, então lá vou eu recorrer para o John Mayer. Ele sabe das coisas, ele sempre embala os meus textos silenciosos com suas músicas suaves. Enquanto o John sussurra “say what you need to say” no meu ouvido, eu escrevo e escrevo e escrevo. Eu quis te guardar em uma caixinha para te proteger do mundo, te proteger de mim. Mas como não posso, te guardo nesse texto. Todos os caras do mundo para não te ver ir embora. Todos os chocolates do mundo para te mandar embora. Todas as amigas do mundo para aguentar. Eu quis muito, eu quis tanto e ainda quero de vez em quando, meio que fingindo que não quero. Com medo de querer, cansada de se doar, cansada de se doer. Dançando os dedos sobre o teclado, cometendo talvez um dos maiores erros do mundo ao escrever pra você, mas é que eu não consigo mais guardar textos na gaveta há muito tempo. Não sei ser essa garota misteriosa que vocês tanto gostam. Guardar um texto e tentar ganhar um coração ou escrever e te ver fugir de mansinho? Te ver escorrer por cada uma dessas palavras porque eu assusto as suas ideias, os seus pensamentos, as suas verdades absolutas. Mas eu não sei ser de outro jeito, eu não sei ser normalzinha como as suas amigas lindinhas e fofinhas e que não escrevem nada a não ser umas frases da Clarice Lispector. Aquelas suas amigas tão previsíveis e as outras tão misteriosas. Eu não sei ser o que você espera que eu seja e eu nem sei o que você espera. Você é esse pontinho de luz fulminante dentro do meu estômago, do meu cérebro, do meu texto. Você é a imagem que vem na cabeça enquanto o John Mayer canta your body is a wonderland. Você também é um idiota, olha só que clichê. Você é um clichê, um personagem bem montado com todas as falas decoradas e ainda assim, encantador. Agora você já pode fugir, porque o final de semana acabou e o texto também. Tudo voltando ao normal, você para a sua pose de bom moço e eu voltando a escrever textos para provar pra mim o que eu não preciso provar pra ninguém. Só pelo prazer de brincar com as palavras e libertar a alma. Eu não sei ser o que você espera, mas eu esperaria por você se você quisesse. Se você merecesse. Fique calmo, não precisa mudar de país ou de nome só porque eu te escrevi. É só mais um texto para te deixar ir embora, antes que você fuja com a melhor parte de mim.

9 comentários:

  1. Texto denso e comovente esse. Vi-me em grandes partes dele, não que eu seja uma Gigi, mas não sei ser misteriosa e não sei guardar textos e isso é triste por um lado, mas louvável por outro. Dia virá em que um rapaz verdadeiramente bom reconhecerá essa nossa virtude e nos amará inclusive por isso. Enquanto esse dia não chega, a gente se perde com as pessoas erradas, se engana, chora, sofre, mas faz parte. Tudo faz parte. O que é bom está guardado para o momento certo, basta crer nisso.
    Sinta meu abraço e saiba que te apoio em todos os momentos, não importa quais sejam as situações. Um grande beijo, viu?

    ResponderExcluir
  2. MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS. AMEI AMEI AMEI. Somos tão parecidas amii... Normalmente falar as coisas as vezes pode ser doloroso demais, porque muitas vezes isso não é entendido e nem compreendido pelas pessoas. Mas é bom falar, não consigo guardar muitas coisas dentro de mim. Prefiro escrever, falar e tal!
    Amei, lindo demais *-*
    Beijos!!

    ResponderExcluir
  3. Só uma pergunta... a gente ta falando de mim ou de você nesse texto?
    Ah tá... Sai da minha cabeça, vai Mariê, por favor!

    ResponderExcluir
  4. Eu não me encaixei em algumas palavras, eu me encaixei no texto todo, eu e ele que também é um completo clichê... Veja só, eu que detesto clichês vivo tentando não amá-lo, amando.
    Os textos mais bonitos são sempre os que a gente escreve para libertar a alma.

    ResponderExcluir
  5. Céus, borboletas no etômago!
    Elas são um perigo, desobedientes. A gente manda elas pararem mas elas nem ligam.

    ResponderExcluir
  6. Oie! Adorei o post! Adorei tanto que copiei um pedacinho e dei uma editadinha de nada pra postar no meu blog (http://tenhoumaloucadentrodemim.blogspot.com/2012/03/voce-e-esse-pontinho-de-luz-fulminante.html)

    Beijo, beijo, beijo!

    ResponderExcluir
  7. Olá Marie
    Este texto fala muito de alguém que é difícil esquecer né. E por mais que a gente tente, a pessoa está sempre ali, como um fantasma nos assombrar, um espírito a nos perturbar..., não sei. Talvez ele já tenha fugido com a melhor parte de você....

    Grande abraço
    Fernando dos Santos
    FERNU OPINA - BLOG

    ResponderExcluir
  8. Há momentos que nenhuma trilha sonora consegue embalar, somente o som do teclado que escreve freneticamente numa tela de computador para extravasar da alma aquilo que a gente não entende de jeito nenhum, só sente e sente.
    Lindo demais Marie! Beijoca.

    ResponderExcluir
  9. Indiquei você para um Meme aqui: http://psicoflores.blogspot.com.br/2012/03/meme-das-11-perguntas.html


    Linda =*

    ResponderExcluir

Sua opinião é sempre muito importante!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...