O jornalista esportivo, comentarista e escritor fala com paixão e fascínio sobre sua carreira e
sua vida pessoal
Por Marie Raya
Quando cheguei ao Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, procurando por ele nas mesinhas do café da livraria Cultura, foi o mesmo quem me achou. Antes de iniciarmos a nossa conversa, percebi de cara a sua dedicação com a profissão ao acompanhá-lo até a seção de esportes em busca de alguns livros para aprimorar ainda mais o seu conhecimento na área. Ele, no caso, é Mauricio Noriega, 45 anos, jornalista esportivo, pai da Clara, 11, e do Rafael, 7, e filho do ex-narrador esportivo Luiz Noriega.
Enquanto pedia um frozen yogurt, ainda em dúvida a respeito do sabor, Noriega falou ainda com um brilho nos olhos sobre a paixão pelo vôlei, esporte que praticou durante 12 anos. “Era a minha vida. Aí no final eu comecei a ficar cansado, tinha vestibular e tive que escolher entre estudar e treinar”, confessou. Nascido em Jaú, ele herdou o gosto pelo esporte do pai que o alertou desde o início sobre as dificuldades da vida de jornalista. “É uma carreira difícil, a gente fica muito tempo fora de casa, o ambiente não é muito legal e tem muita gente mau caráter, ele dizia. E tinha razão”.
Noriega contou que, mesmo sem saber, já existia uma influência forte do pai na decisão sobre sua carreira quando o acompanhava na TV Cultura e observava como os programas eram gravados, mas que a certeza a respeito da profissão se deu através de um professor do ensino médio que deu uma aula sobre as diretas, movimento civil que ocorreu no Brasil. “Eu fiquei fascinado pela maneira como ele falava, pelo vocabulário, pela impostação da voz, pelo conhecimento. Eu disse que um dia eu falaria igual aquele cara”.
Após a injeção de motivação do professor, Noriega afirmou que passou a conversar mais com o pai sobre o assunto, mas que a sua atração não era pela televisão, e sim pelo jornal. Ele queria primeiro escrever bem, “era muito importante para mim”, afirmou após uma breve pausa para uma colherada do frozen de banana.
Seu primeiro contato com o mercado de trabalho foi através de um estágio em uma empresa chamada Comunique, onde afirmou que observava a produção de coletivas, a forma como eles faziam os releases e algumas outras tarefas. Após esse período, Noriega iniciou um estágio na assessoria de imprensa da Federação Paulista de Basquete. “Aí foi bem legal porque eu podia escrever, produzir algumas coisas e ganhar mais espaço. Foi a partir dali que eu entrei mesmo nesse mundo”.
Noriega contou também sobre sua passagem por outros veículos como “A Folha da Tarde”, atual “Jornal Agora”, “Gazeta Esportiva” “Lance!” e rádio “Bandeirantes”. Atualmente ele é comentarista do SporTV e do “Bom Dia São Paulo”, da Globo, e colunista do “Diário de São Paulo”.
Quando perguntei o que ele mais gosta na profissão, Noriega respondeu com a tranquilidade e o gosto pelo que faz que eu percebi nele desde o início da conversa. “O que eu mais gosto é poder ver, participar e contar a história de grandes eventos esportivos. É o que mais me fascina até hoje”. Ele reafirmou o quão satisfatório é poder fazer parte da cobertura de Copa do Mundo, Fórmula 1, Olimpíada, Campeonato Mundial de Basquete, Campeonato Mundial de Vôlei, Jogos Panamericanos, Eurocopa e diversos outros eventos.
Em contraponto, Mauricio Noriega falou sobre a falta de caráter de diversas pessoas que exercem a mesma profissão. Ele disse que algumas pessoas fazem de tudo para conseguir o que querem, passam por cima dos outros. “Infelizmente tem muito puxa-saco, incompetente e puxa-saco. Essa combinação é terrível”, ele concluiu.
O fato de ter que ficar muito tempo fora de casa é outro ponto que o comentarista não gosta. Ele contou que durante a Copa do Mundo ficou 45 dias fora e a cobrança dos filhos é grande. O impacto é muito forte e até mesmo impacto físico, pois até febre as crianças chegaram a ter. “Eu sabia que seria assim, eu passei isso com o meu pai. Mas quando você é o pai é diferente”.
Ser um comentarista não é uma tarefa fácil, principalmente quando é preciso lidar com torcedores fanáticos. Noriega contou sobre as críticas que recebeu algumas vezes de torcedores, um processo que já chegou a abrir devido a algumas coisas que foram escritas a seu respeito e admite já ter “perdido a cabeça” uma vez com uma pessoa através do seu Twitter. “Eu entendo que o comentarista seja visto pelo torcedor como um cara que é sempre contra o time dele, mas faz parte. Quem escolhe trabalhar com opinião está sujeito a isso, não pode se preocupar em agradar as pessoas”.
“Eu vou trabalhar pensando que o meu objetivo será alcançado se algum comentário que eu fizer causar uma reflexão no cara que estiver assistindo”, confessa o comentarista. Ele afirma gostar quando um torcedor o faz refletir sobre algo que ele tenha dito, também. “Posso até não concordar, mas gosto e acho importante quando me faz pensar”.
Ao longo da conversa, só confirmei a forma íntegra e honesta com que Noriega faz o seu trabalho, evitando dirigir-se aos técnicos e jogadores de forma desrespeitosa ou ofensiva. “Eu respeito o ser humano. O cara pode não ser brilhante, mas ele está trabalhando. Ele tem família, mãe, pai, filhos. Eu sempre penso dessa maneira”.
Orgulhoso de sua postura profissional e extremamente humilde, o comentarista conta sobre uma vez em que foi parado no aeroporto pela mãe de um jogador que o agradeceu pelo respeito com que ele tratava o filho dela e os demais jogadores. “Eu tento acrescentar no jogo e para isso tem o que a gente chama de estudar sobre a área. Eu assisto muitos jogos, leio muito e fico caçando coisas na internet”.
Com toda a sua sinceridade e bom humor, Noriega contou um pouco sobre a Copa de 2010, que cobriu junto com o jornalista Milton Leite, a qual teve muitos jogos ruins e chatos. “As seleções eram fracas, faltavam bons jogadores e a gente começou a fazer alguns trocadilhos”. Apesar de fã de trocadilhos, ele disse acreditar ter se excedido nos comentários. “Nós deixamos a transmissão um pouco de lado para fazer as brincadeiras. O retorno foi bom, mas certamente eu acho que eu não soube medir a extensão”.
Em 2009, Mauricio Noriega publicou o livro “Os 11 maiores técnicos do futebol brasileiro”. Durante a nossa conversa ele contou que esse livro surgiu da ideia de outro livro que ele ainda está escrevendo sobre Osvaldo Brandão, “um dos maiores treinadores para mim”, ele afirmou. Noriega explicou que ao tentar vender o livro para o editor, ele sugeriu a ideia da série de livros e o comentarista acabou aceitando.
Quando perguntei sobre um jogo inesquecível para ele, ouvi a resposta de um Mauricio Noriega maravilhado. “Gana e Uruguai na Copa de 2010, no dia em que o Brasil foi eliminado. Foi o jogo mais fantástico que eu já vi”. Ele comentou sobre o baque que é para nós brasileiros sermos eliminados da Copa e explicou que esse jogo era a última chance de um time africano se classificar na Copa da África e do outro lado tinha uma seleção de muita história, muita tradição tentando se reinventar. “Nem Nelson Rodrigues imaginaria um jogo como aquele”.
Quando perguntado sobre sua maior realização pessoal, o jornalista Mauricio Noriega dá lugar ao pai coruja. “Ser pai. Muda a sua vida completamente. Ao mesmo tempo em que você perde a sua identidade, você deixa de ser você e passa a ser pai dos seus filhos. Você ganha outra dimensão. A vida fica melhor”. Já a maior conquista profissional, Noriega responde deixando a modéstia de lado que é a credibilidade, fator muito importante nessa profissão.
Por fim, Noriega fez sua última confissão. “Sou um músico frustrado. Meu sonho era ser baterista. A música me fascina, mas eu não tenho o dom”. Ele falou um pouco sobre a sua paixão pela música e o fascínio pelos instrumentos, e reclamou dos críticos musicais brasileiros que tentam impor o gosto deles às pessoas.
“O que falta e o que sobra na sua vida?”, questionei e Noriega foi direto ao dizer que o que falta em sua vida é rotina. “Ela ajuda a programar melhor a nossa vida”. Ao confessar o que sobra, ele reafirmou o que é fácil notar quando se tem a oportunidade que tive de conversar um pouco mais a fundo com ele, de conhecer a pessoa por trás do jornalista. “Sobra alegria. Ter a felicidade de fazer o que eu gosto de fazer”.
Perfil do jornalista e comentarista Maurício Noriega feito no segundo ano da faculdade de jornalismo, para a disciplina de Conceitos e Gêneros Jornalísticos.